terça-feira, 28 de julho de 2009

TEMA 02
Glamourização do crime

Fragmento 01
Espaço aberto
Desde o início de minha militância na imprensa, tenho-me insurgido contra esse piedoso lugar-comum que inocenta a pessoa do criminoso, atribuindo sua conduta agressiva à miséria e à desigualdade social. O criminoso seria sempre inocente, culpada é a sociedade que o gerou e o mantém sem recursos nem assistência. A glamourização do crime seduz os jovens de todas as classes sociais, não só os adolescentes das favelas, como o “filhinho de papai” da classe média alta ingressando em quadrilhas para assaltar apartamentos de luxo. E, no fundo, mais do que as carências sociais, econômicas e educacionais, é essa glamourização do crime e da violência, encarnada na figura dos mocinhos da bandidagem, o fator decisivo que empurra o jovem para o teatro da infração penal.

Gilberto de Mello Kujawski, escritor e jornalista, ESTADO DE S. PAULO,quinta-feira, 22 de julho de 2004.
Fragmento 02
Fizemos um levantamento na Cidade de Deus e concluímos que apenas 2% da população de lá está envolvida com o crime. Como explicar que a maioria das pessoas não se envolveu com o tráfico? Certamente tem algo a mais aí. Parece-me o fato de que alguns se deixam seduzir por uma imagem da masculinidade que está associada ao uso da arma de fogo e à disposição para matar, ter dinheiro no bolso e se exibir para algumas mulheres. Esse é um fenômeno que está sendo muito estudado nos EUA e na Europa e diz respeito a homens que têm alguma dificuldade de construir uma imagem positiva de si mesmos. Precisam da admiração ou do respeito por meio do medo imposto aos outros. Por isso se exibem com armas e demonstram crueldade diante do inimigo.
Apenas a pobreza e a desigualdade não explicam a atração da juventude pela criminalidade. É preciso ultrapassar a argumentação simplista do determinismo econômico que faz com que se pense que toda a questão da violência e da criminalidade possa ser explicada apenas pela pobreza e pela desigualdade. A pobreza só se detona em combustível da criminalidade quando inflamada pela faísca da glamurização da bandidagem, a imagem do "macho cruel" exaltado como herói do crime.
Chamo a atenção para a responsabilidade da imprensa. As fotos de traficantes e matadores colocadas em destaque nas primeiras páginas dos jornais servem de incentivo aos jovens criminosos em busca da fama. Conhecidos pela sua dureza, os traficantes sentem-se consagrados quando seus rostos aparecem circulando na mídia. A glamourização do crime seria ainda beneficiada, portanto, pela cobertura sensacionalista da imprensa.
Alba Zaluar, antropóloga
Fragmento 03
Bandido sangue bom (trecho adaptado)
Outro assunto interessante foi o Cara de Cavalo, um bandido sem nenhuma importância que entrou no noticiário policial. Foi um mito construído pela imprensa. Tinha uma mulher na zona, assaltava ponto de bicho em Vila Isabel, era adepto da estratégia Robin Hood de roubar dos ricos para dar aos pobres, e fumava uma maconhazinha; não era um bandido de expressão. Foi morto aos 23 anos com mais de cem tiros. A morte de Cara de Cavalo voltou a ser destaque na imprensa carioca quando o artista plástico Hélio Oiticica, que usou a marginalidade social, a repressão política e a revolta individual como tema de suas obras nos anos 60, homenageou o bandido com alguns de seus trabalhos. Sobre ele, Oiticica escreveu: "O crime é a busca desesperada da felicidade autêntica, em contraposição aos falsos valores sociais". Em outras palavras: “a violência é justificada como sentido de revolta, mas nunca como o de opressão”.
Marcelo Monteiro, E por falar em favela, publicado em 11/12/2002
Fragmento 04
Glamour: encantamento, modismo, magia. Expressão popularizada no âmbito de moda, diz respeito a eventos e comportamentos dignos de terem aceitação e de
serem vistos com bons olhos, admiração, cobiça.
Com base nos textos oferecidos e em dados de seu conhecimento, escreva um texto dissertativo argumentativo desenvolvendo reflexões sobre o tema: GLAMOURIZAÇÃO DO CRIME.

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